A beleza de algo não é só estética, e o mundo do vinho não é excepção. Um vinho tem muitos pontos de vista, desperta múltiplos sentimentos, emociona uns, não diz nada a outros.
Este Natal tive num jantar de amigos do mundo do vinho, um daqueles que gosto particularmente em que cada um leva a sua garrafa. O tema era livre, mas sendo Natal, há sempre a tentação de querer levar algo um pouco mais especial.
Primeira questão: Espumante, Tranquilo ou Fortificado? Já havia vários espumantes no leque de escolhas, bem como fortificados, pelo que, a escolha foi fácil: Tranquilo.
Segunda questão: Branco, Tinto ou Rosé? Já havia vários brancos (a ementa seria mais propícia a brancos), pelo que, para fazer diferença e complementar o leque de opções optei por um tinto, mas algo que não fosse muito estruturado, procurava elegância e frescura.
Nacional ou internacional? Bem, acabei por optar por um internacional, neste caso, de Bierzo, uma região espanhola que não sendo das mais conhecidas do público está no radar dos enófilos, pois é uma região que de uma forma geral (ainda) não está sobrevalorizada e que entrega vinhos de qualidade a preços acessíveis.
Mas queria levar algo especial, e tirei da garrafeira um dos vinhos mais raros que tinha. O Valtuille 2019 La Vitoriana teve uma produção de apenas 620 garrafas, um vinho com elevadas pontuações dos críticos internacionais de referência e feito por um dos enólogos mais famosos de Espanha e do Mundo: Raúl Pérez.
Um vinho de parcela, um conceito muito borgonhês, onde a casta Mencia (em Portugal, conhecida por Jaen) domina o lote com cerca de 85%, complementado com Alicante Bouschet, Bastardo e algumas variedades brancas, de uma vinha com mais de 120 anos de idade num lugar conhecido como “La Vitoriana”.
Não é só o conceito de lugar que vem da Borgonha, mas também o perfil de vinho, aliás, Bierzo é vista como a “Borganha de Espanha”, de onde saem muitos vinhos com um perfil mais de Pinot Noir.
Só tinha provado este vinho uma vez na vida, logo quando engarrafado, e tinha receio que fosse cedo. Só tinha uma oportunidade, a garrafa era única, mas correu muito bem, o vinho estava impecável. Aroma com nota redutiva, alguma fruta, cereja, algum expressão terrosa, um tinto de tanino muito fino, concentração com elegância, grande equilíbrio e persistência, madeira delicada, boa frescura, um grande vinho, dos melhores que bebi em 2024. Nota: 19.
Outra beleza do mundo do vinho é a partilha, foi um jantar muito agradável, e com vários vinhos de excelência que alguns irei partilhar oportunamente. Saúde e boas provas!