Provar Porto Vintage é sempre especial, mas provar (e beber) Vintage com idade é um privilégio.
E como privilégio não quero dizer que só está ao alcance de alguns, muito pelo contrário, o vinho é feito para se beber e deve ser uma bebida democrática, ou seja, não é algo exclusivo de alguns “palatos predestinados”.
Esta prova dos 30 anos da colheita 1994 é muito interessante sob várias perspectivas, pois permite ver o perfil das diferentes casas e do ano em questão, mas permite também perceber como é que os vinhos estão a evoluir.
O “momento ideal” de consumo de um vinho é sempre uma discussão interessante, e no caso do Porto Vintage isso ganha toda uma outra dimensão, pois é a própria produção que refere que é um vinho feito para guarda.
É verdade que são vinhos com uma longevidade invulgar, como veremos dentro de algumas palavras, mas não queria deixar de aproveitar esta oportunidade para relançar novamente o debate: Não poderemos beber Vintage novo? Na minha opinião, sim!
Contudo, podemos e devemos também guardar, ou seja, defendo que podemos e devemos beber Vintage novo, acabado de lançar, e devemos também guardar. O vinho novo vai permitir tirar partido de um vinho único, vinhos de uma intensidade extrema, opulentos na fruta, densos, cheios de concentração, muito vivos na acidez e tanino, um perfil sem igual a nível mundial. A prova dos evoluídos vai permitir ter mais complexidade e elegância e obter alguns vinhos que se tornam em peças únicas de grande prazer.
Nestas três décadas, alguns destes vinhos provados já estão prontos a beber, outros ainda estão a pedir mais tempo de garrafa. Partilho aqui algumas notas.
Calém 1994 Porto Vintage
Cor rubi ainda intensa e com pouquíssima evolução. Um estilo doce, sente-se a força alcoólica, ainda denso, com fruta primária. Sugestão de engaço, nota muito leve de vidro, tanino polido mas firme, boa persistência, intenso, final levemente vegetal, a dar um toque de frescura à fruta bem madura. Potencial para continuar a guardar.
Churchill’s 1994 Porto Vintage
Cor a mostrar alguma evolução, não intenso e com leve tom acastanhado, dos mais evoluídos da prova. Um estilo mais fino, mais seco, mais fresco, chá, mentolado, alguma fruta cristalizada e notas florais, longo, perfil de finesse e não de intensidade, num excelente momento de consumo.
Dows's 1994 Porto Vintage
Cor intensa, a denotar uma ligeira evolução. Aromático, muita fruta, compota de ameixa, especiaria, um vinho denso, doçura presente mas bem equilibrado pela acidez, intenso, macio, muita persistência mas com pouca finesse ou complexidade. Em boa forma.
Poças 1994 Porto Vintage
Intensidade média, cor rubi com leve tom acastanhado. Aroma com alguma fruta em passa, marmelo, leve especiaria, um vinho levemente adocicado, acidez bem presente, tanino firme mas fino, sensação mentolada e final com leve amargor de folha de tabaco. Boa persistência, falta-lhe um pouco de complexidade mas ganha no equilíbrio, tem acidez a equilibrar a doçura.
Quinta do Noval 1994 Porto Vintage
Cor com alguma evolução apesar de ainda ter intensidade. O aroma denota evolução, fruta cristalizada, especiaria, uma nota balsâmica e de cacau.
Muito persistente, muito equilibrado entre açúcar e acidez, já com um leve fruto seco, alfarroba, um vinho adocicado mas que termina com sensação de secura, um pouco mais evoluído do que o expectável, continua a ter potencial de guarda mas talvez não muito.
Quinta da Ervamoira 1994 Porto Vintage
Cor rubi, intensa, quase novo. Aromático, muita fruta, leve expressão balsâmica, nota de folha de tabaco. Um vinho intenso, muito mentolado, muito persistente, fresco, levemente adocicado mas muito equilibrado, grande vinho, belíssimo Single Quinta Vintage, um dos melhores da prova, em grande forma e com muito potencial para continuar em garrafa.
Rozés 1994 Porto Vintage
Cor evoluída, relativamente aberto e tom acastanhado evidente. Perfil adocicado, alcoólico, sem o nível de concentração dos restantes, tanino firme, muito presente, até um pouco rústico, acidez presente, um vinho um pouco cru, rústico. Para continuar a guardar.
Taylor's 1994 Porto Vintage
O único servido em garrafa magnum. Cor intensa, poucos sinais de evolução. Aroma com expressão frutada, a lembrar marmelada, alguma fruta preta, pouco aromático, a pedir mais garrafa. Em boca, um vinho intenso, muito frutado, de tanino firme, fresco, mentolado, um pouco adocicado mas equilibrado, ainda com bastante potencial de guarda. Um dos melhores da prova.
Uma belíssima prova, alguns vinhos em grande forma, mais uma validação do potencial de guarda destes vinhos. Quando falamos de vinho, dizemos que cada colheita é única, mas quando estamos perante vinhos com idade, e neste caso, 30 anos, cada garrafa é única. As garrafas que tem em casa poderão não estar na mesma forma, devido a diferentes condições de guarda, o que é normal. Para além disso, os vinhos estão sempre a evoluir mas nem sempre de forma linear. Boas provas!