Não esperem pelo momento especial para abrir as garrafas especiais, pois uma garrafa pode criar um momento especial.
Não me canso de dizer isto, e este é mais um testemunho disso. Num jantar com amigos há algumas semanas, veio à conversa um Barca Velha 1981 que estava por abrir. Ora bem, garrafa disponível, desafio lançado, marcada uma data para abrir a dita, ocasião preparada.
E que bem que estes momentos sabem, não só pela deliciosa comida e companhia, mas porque a partilha funciona como uma espécie de ingrediente secreto para que estes momentos perdurem na memória e que criam histórias para contar.
Relativamente aos vinhos Barca Velha, não há muito mais a dizer. Trata-se de um dos mais icónicos vinhos nacionais, do qual até já tive oportunidade de aqui partilhar uma prova vertical, onde para além das notas de prova podem encontrar um pouco mais de informação sobre estes vinhos.
Este jantar aconteceu no início de Fevereiro de 2025, ou seja, um vinho tranquilo com cerca de 43 anos de idade, o que implica alguns cuidados. A garrafa ficou de pé durante todo um dia para que todo o sedimento fosse para o fundo e houve cuidado com a abertura. Recorri, e penso que foi fundamental, a um saca rolhas de laminas, em particular a um Durand, que permitiu uma extracção tranquila de uma rolha que estava completamente consumida pelo vinho.
Optei por não decantar antes dos convidados chegarem a casa, pelo que, o vinho foi aberto com algumas horas de antecedência.
E o momento alto da noite chegou. A cor já bastante castanha, revelando a sua (esperada) evolução. O aroma era enigmático, e ia evoluindo com o passar do tempo no copo. Café, caramelo, especiarias e expressões terrosas foram algumas das notas aromáticas que o vinho foi entregando. Um tinto macio, ainda com frescura e alguma estrutura, claramente muito evoluído, em rota descendente, mas ainda muito bem.
Um vinho “tinto de mesa”, com apenas 12% de álcool, outros tempos…
Para acompanhar, uma Feijoada de Lebre. Sim, uma feijoada, uma feijoada de feijão branco, com muita couve e frescura, com chouriço preto e alguns cominhos, um prato aparentemente pesado mas que tem sabores que ligaram muito bem ao vinho, uma harmonização que funcionou muito bem e deixou felizes os comensais.
Como referi ao início, não esperem pelo momento especial para abrir aquelas garrafas especiais que estão na garrafeira.
O vinho foi feito para beber, e embora alguns mereçam e ganhem com a guarda, muitos não aguentam assim tanto tempo e algumas garrafas acabarão por se estragar. Por outro lado, não sabemos quantas mais oportunidades teremos.
Juntem os amigos, partilhem não só as tarefas e os contributos como também os momentos, a vida é feita de partilha e o vinho também.
PS: Muito obrigado aos amigos presentes neste jantar, principalmente ao que ofereceu a garrafa do Barca Velha 1981, bem como ao que preparou, e de forma exímia, a Feijoada de Lebre. Venha o próximo momento. Boas provas!