O tempo é um dos maiores críticos do vinho, é implacável, mas é justo. E por vezes, é ele que nos mostra que mesmo os vinhos mais simples, feitos sem pretensão, tinham afinal muito mais para dizer.
Foi o caso deste Adega Ponte de Lima Loureiro 1999, um branco que resistiu ao tempo e à expectativa, revelando uma casta que ainda hoje tarda em brilhar por mérito próprio: o Loureiro.
Falar do Loureiro é falar de uma das castas mais importantes da região dos Vinhos Verdes, ou pelo menos, é falar da casta mais plantada e que representa quase 1/3 do encepamento mas que nem sempre é levada a sério, vivendo um pouco à sombra da mediática Alvarinho.
Nos anos 90, a maioria dos vinhos Loureiro era feita para consumo rápido, leveza e frescura imediata. Eram vinhos com graduação baixa, acidez viva, muitas vezes com ligeiro açúcar residual, pensados para o dia-a-dia. Guardar um vinho destes durante 25 anos pareceria, na altura, um perfeito disparate.
Comparar este vinho com os Loureiros que hoje saem do Vale do Lima é um exercício interessante. Hoje há mais foco na acidez, mais precisão técnica, mais expressão varietal. Há Loureiros mais secos, com estágio sobre borras, com ambições de guarda e até com passagem por madeira. Mas há algo neste 1999 que nos transporta para uma outra era, para uma expressão que o tempo não apagou, apenas transformou.
Com 10,5% de álcool, este Loureiro apresentou-se com uma cor âmbar, profunda e luminosa, marcada pelo tempo. Aroma evoluído, com notas de mel, funcho seco, mogno, um leve toque fumado e sugestões frescas de eucalipto. Na boca, é ligeiro e fresco, com uma falsa sensação de doçura que nunca chega a dominar. A acidez mantém-se viva, mas a estrutura é delicada, e o final não é particularmente longo. Ainda assim, o vinho surpreende: não tem muita persistência, mas tem muita personalidade. Um vinho de memória e de prova, mais do que de consumo.